A TERTÚLIA DE SEXTA À NOITE

TERTULIANOS , suas "alarvidades" e leviandades.

Ordem de Trabalhos:

1. Massada de peixe.(Este ponto é variável semanalmente).

Local: Restaurante O Central

 Claro que sendo uma Sexta feira de Páscoa, o prato principal teria de ser forçosamente de peixe, não porque a maioria dos tertulianos siga à risca todos os mandamentos da igreja, mas tradição é tradição. Até porque para a mesa também veio carne, ainda que os devoradores de carne tenham afirmado que tinham pago a bula!

Em tempo da celebração da Ressurreição de Jesus Cristo, posso-lhes dizer que a massada estava divinal. Já do excelente assado de vitela nem vou falar, porque me envergonho, até porque eu fui dos que não paguei a  bula.

 

2. Discussões infundadas, sobre matérias que não percebemos. ( Este ponto é invariável).

Hoje vou aqui fazer um relato diferente, porque o que vou contar não se passou na Tertúlia, pois na Tertúlia da ultima sexta feira só se falou praticamente de bola, das ajudas ao Benfica e das desventuras do Sporting, alguém me quer aqui a falar unicamente de bola? Claro que não, penso que não...

Então o que vos vou contar foi-me descrito entre tertulianos no dia seguinte e na Casa da Mala, enquanto esperávamos pela hora do Braga - Porto.

O Gangue do Alandroal em Lisboa.

Já tinham ouvido falar deste gangue? Eu não.  Ouvi ontem falar pela primeira vez destes "ilustres" Alandroalenses, numa narrativa feita pelo "Regador".

Estávamos no inicio dos anos '50 do século passado, onde por falta de oportunidades, já muitos Alandroalenses tinham migrado para a capital, à procura de uma vida melhor.  Mas as coisas por lá também não estavam fáceis para quem tinha poucos estudos e pouca apetência para o trabalho.

Com a vida a andar para trás os Alandroalenses tentaram desenrascar-se uns aos outros, arranjado trabalho uns para os outros, consoante os conhecimentos que cada um tinha, enfim arranjavam tarefas para servir a mais fina nata lisboeta! Pois porque este gangue instalou-se no coração de Lisboa, junto à Praça da Figueira com a Rua da Prata, onde o Biguinha assentou arraiais. Era ai que estavam os maiores comércios e centros políticos de Lisboa na altura, na baixa lisboeta. 

Então o Biguinha era o tarefeiro da Loja de Azeites da Prata, import & export, como ele gostava de dizer e como estava escrito na montra em letras douradas, ainda que o Biguinha nunca tivesse vendido ou comprado um único litro de azeite, costumava apresentar o local como a sua casa. Era ele quem arranjava muitas outras tarefas para o Frade, Altinino, Lavado, Celso... Sendo que este ultimo viria a ser uma espécie de líder e protagonista principal do episódio contado pelo "Regador".

A actividade principal do gangue eram as tarefas realizadas pontualmente para comerciantes e políticos da baixa lisboeta, mas cedo se aperceberam que aquela actividade não os levaria muito longe então começaram a alargar as actividades, a trespasses de lojas que não eram suas, a revenda de bilhetes de futebol no mercado paralelo, entre outros.

Mas foi o negócio do futebol que os notabilizou, eles conheciam os dirigentes, jogadores, treinadores e árbitros de futebol, pode-se dizer que o gangue do Alandroal estava muito avançado para a a sua época, sendo que 40 anos mais tarde a Olivedesportos viria a controlar o futebol português, seguindo os métodos do gangue do Alandroal. O que é que eles fizeram? Foram os protagonistas underground do caso Inocêncio Calabote.

Inocêncio Calabote, de Évora foi o primeiro árbitro português a ser irradiado do futebol. Porquê? Porque foi contratado pelo gangue do Alandroal para no ultimo jogo do Campeonato Nacional de Futebol da época de 1958/59 favorecer o Benfica contra a CUF. O Benfica acabou por ganhar por 7-1 com 3 penaltis assinalados fora da área e expulsou 4 jogadores da CUF, mas não foi suficiente para o Benfica ser campeão, pois o Porto com mais um golo acabaria por vencer o campeonato. Mas ficou provado que o árbitro havia sido "comprado"  e duas semanas depois foi irradiado e o gangue do Alandroal desmantelado. Anos mais tarde, ainda se acreditava que se o Benfica tivesse sido campeão, nada se teria sabido!

Sabe-se é que alguns elementos de gangue do Alandroal, chegaram a ser vistos várias vezes nas mais caras casas de diversão nocturna de Lisboa a enrolar cigarros em notas de 1000 paus!!!

O "Regador"  garantiu-me que isto foi mesmo tudo verdade e eu não tenho motivos para duvidar, ou tenho?

Até para a semana, M. Varandas.