De: João Cardoso Justa
Castelo do Alandroal
Por fim, o Grito dos Antepassados…
Antes
de abordar as particularidades que motivaram este título, e, por julgar
pertinente a publicação assinada pelo ex-arquitecto da Câmara
Municipal, gostava de tecer sobre esse texto uma breve reflexão -
Vejamos que mensagem nos transmite, basicamente, o técnico que
acompanhou desde o início este projecto, dito de “requalificação” do
Castelo - Enfatiza, no fundo, com a sua perspectiva profissional o que
qualquer cidadão atento pode verificar. Que, apesar do avançado estado
de deterioração da estrutura (talvez fosse boa ideia alguém da Proteção
Civil verificar que o torreão virado a Sul está na iminência constante
de tombar sobre as casas), e do consequente empobrecimento do
património, os responsáveis autárquicos optaram por encomendar a um
arquitecto “da moda” a planificação de um recinto de festas no seu
interior (quanto terá custado esta “modernice”?). Por comparação, é como
se o telhado da nossa velha casa estivesse prestes a ruir e, num afã de
grandeza, contratássemos um “designer” futurista para nos remodelar a
sala, e impressionar pela magnificência, os amigos e cúmplices das
festarolas e jantaradas. “Show off”, fotos de inauguração, sorrisos
iluminados, e Festa(!), que é disso que “a malta” gosta.
«Se és sábio, não eduques o povo, o povo na ignorância permanecerá feliz» (vem nos Vedas, esta “receita” com mais de 5000 anos).
Fica pois, assim demonstrado, o respeito, a consciência cultural, e,
sobremaneira, as intenções destes “políticos” perante um dos valores
(desfeitos os outros por ambição e ganância a coberto de ideologias
políticas) que ainda nos ligam, e a partir dos quais poderemos
reinventar uma nova sociedade mais solidária e justa – a Verdade de quem
somos, a nossa História, o caminho traçado desde há milhares de anos
por homens que, num simples aperto de mão ou palavra dada, firmavam
contratos mais honestos que as escrituras notariais dos dias que correm.
Chamava-se “Honra”, essa forma de andar de cara levantada e limpa.
Lembram-se? Possivelmente poucos entenderão ainda o sentido que lhe está
subjacente e a sua fundamental importância em qualquer sistema social. E
poucos, entenderão portanto, que a podridão e a falência da sociedade
em que vive o Concelho e o País, deriva da substituição da
honorabilidade, da verticalidade, por esta política de “faz de conta”,
de engano, de venda do sucesso imediato, de um novo-riquismo em que a
riqueza é a ignorância, de ilusões de segurança laboral a quem é
impreparado e incapaz (saberemos o resultado quando a verdadeira Reforma
do Poder Local imposta pela famigerada Troyka, [depois das eleições, é
evidente, que os partidos têm travado esta reforma] colocar no
desemprego a maioria dos funcionários que “os Padrinhos” têm acumulado,
ou apilhado, na Câmara). E é desta inconsciência, desta ligeireza, desta
escolha do fútil, do brilho imediato embora fugaz, que deriva toda a
incúria, toda a incompetência que atravessou transversalmente todas as
governações da nossa terra e, agora, (voltando à “vaca-fria) causou esta
problemática “dor de cabeça requalificada” em que se transformou a obra
do Castelo.
Do idealizado e "modernaço" salão de bailes e discotecas, emergem agora,
por todos os lados, de épocas diferentes, intrusos,
“desmancha-prazeres”, “desmancha-inaugurações”, os esqueletos e os
vestígios de vida dos nossos Antepassados (quem poderia adivinhar um
fenómeno destes?...). «Malditos Antepassados! Até a procissão das Festas
está em risco!... Isto é coisa que se faça? Numa altura destas, depois de
milhares de anos, é que se lembram de aparecer? Nem a Nª Sra. Da
Conceição (as duas), nem o padre brasileiro, e, muito menos, a nossa
Presidência, merecem tal desconsideração!!...». Quer dizer,
construiu-se no interior de um castelo carregado de História
(teimosamente recusaram que assim seja) com a mesma sensibilidade com
que se faz uma estrada, ou um aterro, num qualquer terreno baldio, e o
resultado está à vista, ou estava, agora, possivelmente para taparem as
atrocidades cometidas, trabalham, envergonhados, sob a cobertura de uma
enorme rede. Ora, dizem os nossos pescadores, “existem peixes que nem
com rede se apanham”, e, foi possivelmente algum, que, Anónimo, me
enviou várias fotos desse ambiente escondido dos alandroalenses, em que
gente alheia e insensível, remexe a seu belo prazer nos ossos dos nossos
antepassados e destrói os fundamentos da nossa História. E, por
desgosto meu e de quem tem consciência do valor que estas estruturas
encerram, o que essas fotografias contam (e daí, o reforço da vergonhosa
rede) é que outro CRIME arqueológico foi cometido junto às escadas da
igreja.
Outro piso, este em xisto, (o outro destruído, é de tijoleira) enorme, e que aflora por baixo das escadas de mármore que conduzem à Igreja, estendendo-se (os vestígios são nítidos) até FORA do Castelo por sobre as sepulturas aí encontradas, foi também decepado, para todo o sempre, pelos dentes das máquinas do empreiteiro.
Senhores
representantes do poder autárquico, senhor Presidente da Câmara do
Alandroal, têm toda a autoridade para construírem os recintos de
diversão que quiserem, mas NÂO TÊM O DIREITO DE DESTRUIR O NOSSO
PATRIMÒNIO. Isso é um crime, tem consequências como devem saber, e por
elas responderão! Foram V. Exas. avisadas, repetidamente alertadas, mas o
uso do poder parece tornar as pessoas autistas, e agora aqui têm este
lindo resultado – há esqueletos quase no meio da estrada e, (ò Azar dos
Azares) lembraram-se agora, no Domingo há procissão… «Há que tapar
tudo!! Venham antropólogas aos pares, venham arqueólogos aos molhos!! Há
que tapar tudo que, com isto das procissões, o povo é bravo!!» - São
as ordens da nossa “Inteligenzia”… E tudo isto é ridículo, e tudo isto é
trágico, e tudo isto é de uma pobreza intelectual absoluta. E, quando
pensamos que é nas mãos desta classe de pessoas que o Concelho (e o
País) está entregue, fica em nós, latente, incómodo, o peso da
repugnância.
Por
fim, o Grito dos Antepassados… E este Grito, vai “direitinho” para
todos os técnicos, todos os cientistas, os seus pseudónimos, os
engenheiros reformados (vivem á custa de reformas, é verdade), os
companheiros e… e mais nada, que são os mesmos. Vai para todos afinal
que, desde a publicação no Al Tejo da minha pesquisa sobre Lacóbriga,
nestes blogues me acusaram de ignorante para cima, e para baixo
sobretudo, quando defendi a existência de estruturas bastante mais
antigas no local onde hoje se ergue o Castelo. «Aqui d´el Rey D.
Diniz!!! Bradaram de mãos na incredulidade esses “génios” sapientes. E
agora?... Agora, meus senhores… Agora o que bradam? Agora que, à vista
de todos, o Castelo está construído sobre um cemitério e um vasto piso
de xisto que indicia outras construções, o que argumentam V. Exas.?...
Enfiaram o cemitério e as restantes estruturas por baixo das muralhas?
Na verdade, basta de ridículo, meus senhores e minhas senhoras! E mais
vos digo (agora que me parece desnecessário voltar a escrever sobre este
assunto) – muito frágil seria o meu estudo e todo o trabalho que nele
empenhei se, contasse com a sua validação por “arqueólogos ou
candidatos” de província, pois, cujos conhecimentos históricos
correspondem à sua dimensão. È a outro nível, noutros locais, entre
eruditos da Antiguidade que a minha teoria será estudada quando a
apresentar formalmente.
Em boa verdade, se os crimes de destruição que
efectuaram, não ensombrassem de luto todo este processo, até vos deveria
estar grato por demonstrarem, no terreno, o que concebi por raciocínio.
Resistiram até ao limite, estrebucharam, espernearam, inventaram datas
(a responsável daquele Centro Interpretativo Que Não Se Sabe O Que É,
numa semana, mudou de opinião dez séculos, mil anos(!) sobre a datação
das estelas (funerárias), de tudo fizeram para esconderem o passado mais
remoto desta gente, mas foram eles, os nossos Antepassados que, num
GRITO desesperado, no último metro da escavação, do interior DAS CAMPAS
ENCONTRADAS FORA DO CASTELO, quem gritou – Estamos aqui! Esquecidos!
Apagados da História! BASTA DE ESQUECIMENTO! CONTEM A NOSSA
HISTÓRIA!!!...
E é esse grito, que vos perseguirá ao longo da vossa pouco promissora carreira.
Passem bem, e boas Festinhas...
João Cardoso Justa
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