Por João Cardoso Justa
O Castelo do “Landroal”
(Celtas, greco-romanos, visigóticos,
muçulmanos, cristãos, ou, tão somente, um bocado de calçada industrial? – Eis a
questão.)
Caros Alandroalenses:
Uma região do interior, do “campo”, de
planícies tranquilizantes, de gente afável e hospitaleira que comunga, ainda e tão
proximamente com a Natureza, é, na actualidade, entre os sectores do mercado
turístico, das que dispõem de maior potencial de crescimento, e, nesse “novo”
olhar de quem, saturado/a do bulício das cidades, procura o “cantar dos
passarinhos” e o sossego da alma repousada pelos horizondes fundos, é, este
resíduo de paz e sossego, sobretudo valorizado pela cultura que encerra e
respeitado pela forma como a preserva. È isso, afinal, que caracteriza uma
sociedade desenvolvida, uma estrutura social que respeite o chão onde se
ergueu, se preocupe com a educação e o bem-estar dos que nela vivem, e,
partindo de quem é e daquilo que possui, projecte o futuro intencionalmente,
valorizando a riqueza preservada. É, neste contexto, cultura/história/turismo, que
(agonizando a agricultura, a indústria dos mármores, e com tanta premência de
postos de trabalho), este concelho tem definitivamente que apostar criando
atractivos de qualidade e, se possível, únicos.
Ora, é precisamente a sedução da “coisa
rara,” a singularidade, quem brilha neste momento no interior do nosso Castelo
e, este projecto de “requalificação” (os dentes de uma retro-escavadora já
destruíram PARA SEMPRE um dos seus vestígios mais importantes), ameaça agora
ofuscar, possivelmente por centenas de anos, debaixo de um bocado de calçada
insensível e industrial.
Efectivamente,
a profusão dos vestígios arqueológicos encontrados nesta superficial escavação
de “acompanhamento de obra”, fez surgir á luz do nosso Sol, várias, e raras,
páginas da História concentradas num só local. Das estelas funerárias
encontradas (nove até á data, segundo creio), uma é declaradamente visigótica,
e as outras (numa face a cruz Celta que originaria a Templária e, na outra,
variados símbolos do paganismo), sem tanta convicção, dataria de séculos
posteriores. Dos pisos, dois e de tijoleiras diferentes, (um dos quais agora
mutilado para sempre debaixo do olhar dos arqueólogos), sem mais investigação,
deixam-nos mais perguntas que respostas. Seria uma capela visigótica dos
inícios da sua cristianização? Seria a antiga mesquita? Seria a capela cristã
contemporânea ao Castelo? È no entanto, significativo verificar que, a última
estela encontrada (numa face um triângulo e na outra uma cruz Celta) se
encontrava sob um dos pisos (o destruído), portanto, este é posterior à época
das estelas, donde resultaria que, se esse piso em tijoleira pertencesse à
mesquita, as estelas seriam definitivamente visigóticas (o que apenas
confirmaria, neste mesmo Castelo, a identificação de peças do período visigótico
por Túlio Espanca). E assim, num mesmo local, estratificado pelas diferentes
culturas que nos geraram, teríamos a oportunidade única e rara na Península
Ibérica de possuir um autêntico museu a céu aberto com as peças “in loco”. Outros
muros, uma sólida e grossa estrutura em xisto e alicerces de paredes dispostos
em sentido contrário aos da actual igreja, lançam ainda mais mistérios na
decifração histórica dos vestígios avulsos que proliferam neste local.
Trata-se, repito, apenas de uma
“escavação de acompanhamento de obra”, o que nos leva consequentemente a pensar
no que poderá ainda este Castelo revelar se, uma investigação séria, descesse a
cotas mais profundas.
Apesar desta “mensagem”, desta
oportunidade que os nossos antepassados nos estendem desde há milhares de anos,
destas páginas únicas da História que é a NOSSA e que devíamos mostrar,
preservada, respeitada, a estudiosos e interessados (e são milhares) e delas
criar condições de desenvolvimento cultural/turístico, a vulgaridade dos
responsáveis, sem sensibilidade nem visão, tudo vai tapar (depois dos estragos
provocados e da caótica profanação das centenas de ossos ancestrais que
carregam juntamente com terra e pedras) com uma calçada industrial. E porquê?
Porque nesse mesmo sítio, embora já com a construção de um outro no lado oposto
do castelo, tem projectado um pobre palco… E lá, nesse palco da pantomina, se
continuará a representar a pobreza cultural, a ignorância, as inaugurações
partidárias, afinal, a capa do desprezo por tudo e todos tão característico dos
ávidos medíocres.
Esta é a realidade do que se passa no
coração desta vila, este é o crime que, dia após dia, é cometido contra a
memória das gentes, dos nossos avós, dos que nos possibilitaram o presente. E,
perante tudo isto - o SILÊNCIO. Os gritos dos cadáveres não se ouvem, é certo,
mas estarão também mortas as outras forças que disputam o poder nesta terra? Ou
ignoram? Ou receiam ser acusadas de outros crimes desta natureza por elas
praticados? E os industriais da restauração e da hotelaria desta zona têm a
mínima noção da riqueza, oportunidades de negócio, criação de emprego, que lhes
está a ser retirada por esta política da ignorância? Certamente que não. Ainda
ninguém percebeu que nos bastava saber preservar e “vender” a nossa História,
para que este concelho desse um salto qualitativo na sua credibilidade e no seu
nível de vida?
Sabem os alandroalenses que, cerca de 70% das peças que constituem o Museu de Arqueologia de Lisboa (mais as que não
têm em exposição permanente) pertencem ao nosso concelho? E que além destas,
que serão centenas, também há variadíssimas peças, que nos pertencem, nos
museus do Crato e de Évora? E que haverá dezenas de valiosíssimos objectos,
sobretudo do período romano, em poder de particulares? Pois é, meus caros
conterrâneos, teríamos, “tão somente”, o melhor Museu Arqueológico do país!…
Coisa pouca, não é senhores “responsáveis”? Agora, acrescentando-lhe esta
fantástica surpresa do Castelo, mais a jóia rara que é a Capela da Boa Nova,
mais a história de Santiago Maior (que está toda por contar), mais os mistérios
do Endovélico, mais a importância de Juromenha que continua em ruínas, e, talvez,
V. Exas tenham uma pequena noção, um vislumbre, de um outro concelho, de uma
outra região, que a vossa cegueira política (e falo de todas as presidências)
nos tem impossibilitado de usufruir e desenvolver.
Por
tudo isto, senhor Presidente da Câmara, estou certo que em nome da maioria
esmagadora dos alandroalenses conscientes, renovo-lhe aqui o pedido que lhe
apresentei pessoalmente. Por favor, detenha os trabalhos enquanto é tempo,
apresente e negoceie uma alteração ao projecto com o empreiteiro e o Igespar
(muito haveria a dizer sobre a responsabilidade deste instituto), não terá
certamente esta “linda obra” pronta nas futuras eleições, mas terá a
consciência de que deu um definitivo passo para um outro concelho do
“LANDROAL”.
Um abraço a TODOS
João Cardoso Justa
10 comentários:
Repara o que a autarquia diz num comunicado enviado para o Al Tejo:
"...Para além do obrigatório acompanhamento arqueológico a cargo da autarquia..."
Se não fosse obrigatório não faziam escavação nenhuma, não houve nem há preocupação nenhuma em termos turisticos ou arqueológicos.
os alandroalenses não podem fechar os olhos e assobiar para o ar, devem participar nestas discussões, pode ser que sejam levados em conta pelos políticos e estes vão ao encontro do desejo das pessoas e não contra os desejos destas.
Faço uma pergunta: alguém se preocupou até hoje com as ruínas da alcaidaria do castelo, expostas e degradadas há anos?
Alguém já ouviu falar em registo arqueológico?
Bem me parecia
O dinheiro que gastam em inutilidades e festas pimbas dava para construírem dois Museus. Mas no fundo, os alandroalenses têm o que merecem. Gente medíocre e sem qualquer visão estratégica.
O tempo do verbo está errado, o dinheiro que gastaram em inutilidades e festas pimba dava para construir muita coisa. Assim é que está certo para essa gente medíocre e sem qualquer visão estratégica, e além do mais sem vergonha para vir para aqui com um comentário desse teor. Ou já se esqueceram do que gastaram à conta do Zé Povinho e pelo qual têm ainda que ir responder a tribunal? A vossa visão não engana mais ninguém!
O FUTURO do Alandroal continua a debater-se entre duas pessoas sem qualquer competência para gerir o presente e com provas dadas de total incompetência no passado.
sim esse grilo é melhor que o nabais não? O grilo é ainda pior que o nabais saudades do joao festanças...Este o dinheiro desaparece e não faz nada que se aproveite.
Tenham vergonha façam algo de util, é para isso que ai estão.
Bem me enganaram, penssa-va eu que eram diferentes,são todos iguais só querem é taxos.
Bem arrependido estou em ter gasto dinheiro em combustivel atráz de voces e perder o meu tempo.
Aos leitores,
Gonçalo Lopes, Manuel Pedro Nunes e outros anónimos, volto a relembrar a politica de comentários deste blogue:
A comentadores identificados (J. C. Justa) só é permitido fazer contraditório desde que o contestante esteja também devidamente identificado. Essa identificação só é válida se o contestante fizer o comentário com a conta aberta do gmail ou enviando o comentário directamente para o meu e-mail: alsport.varandas@gmail
Agradeço compreensão da vossa parte.
Varandas.
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