quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Castelo de Alandroal em Carta Aberta


                      Por João Cardoso Justa
O Castelo do “Landroal”

(Celtas, greco-romanos, visigóticos, muçulmanos, cristãos, ou, tão somente, um bocado de calçada industrial? – Eis a questão.)


Caros Alandroalenses:

Uma região do interior, do “campo”, de planícies tranquilizantes, de gente afável e hospitaleira que comunga, ainda e tão proximamente com a Natureza, é, na actualidade, entre os sectores do mercado turístico, das que dispõem de maior potencial de crescimento, e, nesse “novo” olhar de quem, saturado/a do bulício das cidades, procura o “cantar dos passarinhos” e o sossego da alma repousada pelos horizondes fundos, é, este resíduo de paz e sossego, sobretudo valorizado pela cultura que encerra e respeitado pela forma como a preserva. È isso, afinal, que caracteriza uma sociedade desenvolvida, uma estrutura social que respeite o chão onde se ergueu, se preocupe com a educação e o bem-estar dos que nela vivem, e, partindo de quem é e daquilo que possui, projecte o futuro intencionalmente, valorizando a riqueza preservada. É, neste contexto, cultura/história/turismo, que (agonizando a agricultura, a indústria dos mármores, e com tanta premência de postos de trabalho), este concelho tem definitivamente que apostar criando atractivos de qualidade e, se possível, únicos. 

Ora, é precisamente a sedução da “coisa rara,” a singularidade, quem brilha neste momento no interior do nosso Castelo e, este projecto de “requalificação” (os dentes de uma retro-escavadora já destruíram PARA SEMPRE um dos seus vestígios mais importantes), ameaça agora ofuscar, possivelmente por centenas de anos, debaixo de um bocado de calçada insensível e industrial.

 Efectivamente, a profusão dos vestígios arqueológicos encontrados nesta superficial escavação de “acompanhamento de obra”, fez surgir á luz do nosso Sol, várias, e raras, páginas da História concentradas num só local. Das estelas funerárias encontradas (nove até á data, segundo creio), uma é declaradamente visigótica, e as outras (numa face a cruz Celta que originaria a Templária e, na outra, variados símbolos do paganismo), sem tanta convicção, dataria de séculos posteriores. Dos pisos, dois e de tijoleiras diferentes, (um dos quais agora mutilado para sempre debaixo do olhar dos arqueólogos), sem mais investigação, deixam-nos mais perguntas que respostas. Seria uma capela visigótica dos inícios da sua cristianização? Seria a antiga mesquita? Seria a capela cristã contemporânea ao Castelo? È no entanto, significativo verificar que, a última estela encontrada (numa face um triângulo e na outra uma cruz Celta) se encontrava sob um dos pisos (o destruído), portanto, este é posterior à época das estelas, donde resultaria que, se esse piso em tijoleira pertencesse à mesquita, as estelas seriam definitivamente visigóticas (o que apenas confirmaria, neste mesmo Castelo, a identificação de peças do período visigótico por Túlio Espanca). E assim, num mesmo local, estratificado pelas diferentes culturas que nos geraram, teríamos a oportunidade única e rara na Península Ibérica de possuir um autêntico museu a céu aberto com as peças “in loco”. Outros muros, uma sólida e grossa estrutura em xisto e alicerces de paredes dispostos em sentido contrário aos da actual igreja, lançam ainda mais mistérios na decifração histórica dos vestígios avulsos que proliferam neste local. 

Trata-se, repito, apenas de uma “escavação de acompanhamento de obra”, o que nos leva consequentemente a pensar no que poderá ainda este Castelo revelar se, uma investigação séria, descesse a cotas mais profundas.

Apesar desta “mensagem”, desta oportunidade que os nossos antepassados nos estendem desde há milhares de anos, destas páginas únicas da História que é a NOSSA e que devíamos mostrar, preservada, respeitada, a estudiosos e interessados (e são milhares) e delas criar condições de desenvolvimento cultural/turístico, a vulgaridade dos responsáveis, sem sensibilidade nem visão, tudo vai tapar (depois dos estragos provocados e da caótica profanação das centenas de ossos ancestrais que carregam juntamente com terra e pedras) com uma calçada industrial. E porquê? Porque nesse mesmo sítio, embora já com a construção de um outro no lado oposto do castelo, tem projectado um pobre palco… E lá, nesse palco da pantomina, se continuará a representar a pobreza cultural, a ignorância, as inaugurações partidárias, afinal, a capa do desprezo por tudo e todos tão característico dos ávidos medíocres. 

Esta é a realidade do que se passa no coração desta vila, este é o crime que, dia após dia, é cometido contra a memória das gentes, dos nossos avós, dos que nos possibilitaram o presente. E, perante tudo isto - o SILÊNCIO. Os gritos dos cadáveres não se ouvem, é certo, mas estarão também mortas as outras forças que disputam o poder nesta terra? Ou ignoram? Ou receiam ser acusadas de outros crimes desta natureza por elas praticados? E os industriais da restauração e da hotelaria desta zona têm a mínima noção da riqueza, oportunidades de negócio, criação de emprego, que lhes está a ser retirada por esta política da ignorância? Certamente que não. Ainda ninguém percebeu que nos bastava saber preservar e “vender” a nossa História, para que este concelho desse um salto qualitativo na sua credibilidade e no seu nível de vida? 

Sabem os alandroalenses que, cerca de 70% das peças que constituem o Museu de Arqueologia de Lisboa (mais as que não têm em exposição permanente) pertencem ao nosso concelho? E que além destas, que serão centenas, também há variadíssimas peças, que nos pertencem, nos museus do Crato e de Évora? E que haverá dezenas de valiosíssimos objectos, sobretudo do período romano, em poder de particulares? Pois é, meus caros conterrâneos, teríamos, “tão somente”, o melhor Museu Arqueológico do país!… Coisa pouca, não é senhores “responsáveis”? Agora, acrescentando-lhe esta fantástica surpresa do Castelo, mais a jóia rara que é a Capela da Boa Nova, mais a história de Santiago Maior (que está toda por contar), mais os mistérios do Endovélico, mais a importância de Juromenha que continua em ruínas, e, talvez, V. Exas tenham uma pequena noção, um vislumbre, de um outro concelho, de uma outra região, que a vossa cegueira política (e falo de todas as presidências) nos tem impossibilitado de usufruir e desenvolver.

 Por tudo isto, senhor Presidente da Câmara, estou certo que em nome da maioria esmagadora dos alandroalenses conscientes, renovo-lhe aqui o pedido que lhe apresentei pessoalmente. Por favor, detenha os trabalhos enquanto é tempo, apresente e negoceie uma alteração ao projecto com o empreiteiro e o Igespar (muito haveria a dizer sobre a responsabilidade deste instituto), não terá certamente esta “linda obra” pronta nas futuras eleições, mas terá a consciência de que deu um definitivo passo para um outro concelho do “LANDROAL”.

Um abraço a TODOS

João Cardoso Justa

10 comentários:

Anônimo disse...

Repara o que a autarquia diz num comunicado enviado para o Al Tejo:

"...Para além do obrigatório acompanhamento arqueológico a cargo da autarquia..."

Se não fosse obrigatório não faziam escavação nenhuma, não houve nem há preocupação nenhuma em termos turisticos ou arqueológicos.

Anônimo disse...

os alandroalenses não podem fechar os olhos e assobiar para o ar, devem participar nestas discussões, pode ser que sejam levados em conta pelos políticos e estes vão ao encontro do desejo das pessoas e não contra os desejos destas.

Anônimo disse...

Faço uma pergunta: alguém se preocupou até hoje com as ruínas da alcaidaria do castelo, expostas e degradadas há anos?
Alguém já ouviu falar em registo arqueológico?

Bem me parecia

Anônimo disse...






O dinheiro que gastam em inutilidades e festas pimbas dava para construírem dois Museus. Mas no fundo, os alandroalenses têm o que merecem. Gente medíocre e sem qualquer visão estratégica.

Anônimo disse...

O tempo do verbo está errado, o dinheiro que gastaram em inutilidades e festas pimba dava para construir muita coisa. Assim é que está certo para essa gente medíocre e sem qualquer visão estratégica, e além do mais sem vergonha para vir para aqui com um comentário desse teor. Ou já se esqueceram do que gastaram à conta do Zé Povinho e pelo qual têm ainda que ir responder a tribunal? A vossa visão não engana mais ninguém!

Anônimo disse...





O FUTURO do Alandroal continua a debater-se entre duas pessoas sem qualquer competência para gerir o presente e com provas dadas de total incompetência no passado.

Anônimo disse...

sim esse grilo é melhor que o nabais não? O grilo é ainda pior que o nabais saudades do joao festanças...Este o dinheiro desaparece e não faz nada que se aproveite.

Anônimo disse...

Tenham vergonha façam algo de util, é para isso que ai estão.
Bem me enganaram, penssa-va eu que eram diferentes,são todos iguais só querem é taxos.
Bem arrependido estou em ter gasto dinheiro em combustivel atráz de voces e perder o meu tempo.

Anônimo disse...
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Varandas disse...

Aos leitores,

Gonçalo Lopes, Manuel Pedro Nunes e outros anónimos, volto a relembrar a politica de comentários deste blogue:

A comentadores identificados (J. C. Justa) só é permitido fazer contraditório desde que o contestante esteja também devidamente identificado. Essa identificação só é válida se o contestante fizer o comentário com a conta aberta do gmail ou enviando o comentário directamente para o meu e-mail: alsport.varandas@gmail

Agradeço compreensão da vossa parte.

Varandas.