quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

De Lacóbriga até ao Castelo de Alandroal (Parte II)



Tal como ontem prometi, segue hoje a parte II da tese do João Cardoso Justa sobre a "Cidade de Endovélico". Pode ver aqui a 1ª parte: Cidade do Endovélico - Parte I

... Continuação,

Assim, para quem tem acompanhado esta problemática, porque a sente, porque tem consciência da sua importância patrimonial/turística, e sobretudo genética, fica o Verbo destes historiadores a latejar nas paredes do incompreensível. Como é possível, tudo este manancial de questões, não ter sido acautelado quando da elaboração de tão fatídico projecto? Como, e por quem, foram feitas as sondagens arqueológicas de tão sensíveis terrenos? Com que sentido de responsabilidade, o ex-Igespar aprova uma barbaridade destas (uma carta, eminentemente corporativa, atabalhoada, dirigida pessoalmente a mim, com o endereço de minha casa, e publicada no blogue Al Tejo, não apaga tanta incompetência (espero que o moderador deste blogue explique, onde o publicou e com o mesmo destaque, este gravíssimo abuso). 

 Contudo, e infelizmente, existem mais responsáveis, de uma distinta responsabilidade é certo, mas não menos gravosa, e até, mesmo mais obscura. Existe sempre uma profunda falta de verticalidade, de carácter, um bafo a coisa desleal, em quem, sabendo a verdade, a cala. Passo a explicar – Onde fui eu recolher os extractos dos textos destes historiadores? Nenhuma investigação fiz (ainda) obectivamente sobre o Castelo.

 Pois, para minha surpresa, todos esses escritos constam do livro “Castelo do Alandroal, VII Séculos”, uma feliz publicação da Junta de Freguesia do Alandroal!!!

 Assim, é pois possível, e justo, perguntar ao Sr. António João Fontes Coelho, a quem se deve esta publicação enquanto presidente da Junta, e um curioso desde há muito pelo fenómeno histórico, se mandou elaborar o referido livro, e não o leu???...   
Enquanto andei por estes blogs a falar sozinho (!), porque não se dignou escrever uma única palavra sobre a evidente antiguidade (muito anterior ao D. Dinis) do nosso castelo e nem uma única acção esboçou para impedir o crime que praticavam ao destruir as provas desta evidência?? É pois, também possível, e justo, perguntar ao Dr. Luís Fernando Camões Galhardas, que, segundo creio, coordena um conjunto de personalidades que estudam os forais do concelho, se não sabia da existência do Foral Afonsino (D. Afonso Henriques), o que apenas pode provar a pré existência de um castelo mouro ( não vejo que outro assunto mais interessante possa suscitar o estudo dos forais). Porque não escreveu, o Dr. Luís Fernando, uma única palavra, nem esboçou um só gesto enquanto destruíam provas absolutamente decisivas para os estudos que dizem efectuar??... É pois possível, sabendo-se que tudo isto está escrito no citado livro dos VII séculos do Castelo, e justo, perguntar ao Dr. Domingos Boieiro, que nele colaborou, se não tinha uma palavra, um gesto, para denunciar tal situação. 

Contudo, talvez não seja possível, saber que pensamentos correram pelo historiador António Rei, que os técnicos que acompanharam a obra trouxeram ao local, ao olhar o enorme rasgão que as máquinas abriram num dos pisos de tijoleira, possivelmente a antiga mesquita. O que sente um cientista, ao ver perante os próprios olhos a destruição do seu elemento de estudo? Certamente não sentiu o silêncio a que se remeteu. E o Dr. Fernando Branco, que também, segundo creio, faz parte dessas personalidades estudiosas dos forais, o que sentiu? Nada??...
 
Pois aqui têm o resultado da ignorância de uns, da incompetência de outros, e do silêncio de todos :
Màrmore!!! O arquitecto, segundo parece muito em moda, “espetou” com uma escadaria de mármore (!) nesta entrada (sob a qual se prolonga o antigo (ou antigos) cemitério. Se não existia arte pimba, aqui está um autêntico pioneiro.


Nesta esquina, por teimosia dos técnicos (alegando servir para datação da torre sineira que, se sabe exactamente, quando foi construída, ficou mais uma estela funerária que poderia figurar entre a colecção das raríssimas estelas que o Alandroal agora dispõe. Ficou cimentada!!
Sob esta vala e este chão estão dois pisos em tijoleira (um destruído), variadíssimas campas, fundações de construções indeterminadas e um largo e forte muro em xisto que nunca foi explicado.
Degrau, modernista também…

Janela exterior (virada para o antigo Hospital), “entaipada” com uma chapa de mármore!!!
 Nova entrada do Castelo. Mármore!! Sob uma placa de cimento estão sepulturas antiquíssimas, de tal forma que os ossos estavam petrificados!
Segundo me informaram, o Castelo vai ficar fechado com portas. Contudo, não pude confirmar tal informação.

Desta porta, onde o historiador diz: «Porta da vila que devia ser reabilitada criando uma circulação pelo caminho de ronda do cerco, presentemente interrompida na zona da antiga porta e barbacã.»
 
O sr. arquitecto fez isto:
Seguindo o seu “magnífico” sentido estético e “preocupação” histórica, “entaipou-a” também com uma grossa placa de mármore e degrauzitos a condizer…
Outros exemplos desta “requalificação” do Castelo aqui poderia documentar, mas, estes, parecem-me ser suficientes para demonstrar aquilo que, desde o início da obra, resultava óbvio – Não houve a mínima preocupação, a mais elementar pesquisa, quanto àquilo que deveria ser absolutamente prioritário ao intervir no interior de um castelo – a sua História!!! O arquitecto decorou-o a seu belo prazer (felizmente não se lembrou de forrar a torre) com uns laivos de mármore, os responsáveis da autarquia acharam “girissimo”, interessantíssimo, futurista, “chiquérrimo” mesmo, e o o ex Igespar (que há poucos anos, e muito bem, não deixava colocar uma única pedra de mármore nas casas circundantes) aprovou esta vanguardista “obra de arte” que espezinhou, tudo assim o leva a deduzir, milhares de anos de uma história que, para além da antiguidade desta terra, será fundamental aquando da verdadeira localização da mítica Lusitânia (Lusos do Anas – Lusos do Guadiana), mas disso falaremos mais tarde.

Assim, meu amigo Castelo, lamento informar-te que essa “treta” ética que tens cravada nas tuas pedras – “Quem de ti se fiares, não o enganes. Lealdade sobre todas as coisas.” – está ultrapassada, e tu, nem nos netos daqueles a que tantas vezes guardaste as vidas, podes confiar. Sabes, com isto do “desenvolvimento”, os valores são outros, e a tua mensagem, meu velho, essa sim, não passa de conversa fiada.

Abraço a Todos
João Cardoso Justa

12 comentários:

Anônimo disse...



Quero ver como os técnicos profissionais agora descalçam esta bota... Isto é de uma incompetência total!!! E nesta terra tudo acobardado e caladinho... Lindo!!!!

Varandas disse...

Boa noite,

Vários comentadores tentaram aqui e na parte I deste estudo, contradizer a visão do escritor, é claro que esses comentários não entraram, pois como avisei inicialmente e é também, politica deste espaço proteger os todos os que se identificam, sendo assim, todo o comentador que queira fazer o contraditório do que está escrito, terá de o fazer identificado.

Manuel Varandas.

Anônimo disse...

Caro João,
os meus parabéns!
Muito pertinentes o teu texto. A "marmorização" do castelo é terrível.
abraço

Anônimo disse...




Não sou historiador embora me interesse desde sempre por esses assuntos. Leio pois com curiosidade este folhetim em que se transformou a obra do castelo do Alandroal, e parece-me que se algumas dúvidas existiam quanto à razão que assistia ao sr. João Cardoso justa neste assunto, as palavras já escritas por historiadores de nomeada e que ele agora oportunamente trouxe aos olhos de todos, esclarecem de vez este assunto. É um crime inqualificável o que fizeram! Essa da Lusitânia ser Lusos do Anas, é uma teoria curiosa. Espero que a desenvolva. Revejam a obra enquanto é tempo, aquela ideia da mármore é uma coisa horrível!!
Cumprimentos

Anônimo disse...

Não entendo, Rosinha, essa tua política, então os comentários que são a favor podem entrar sem se identificar, os que são contra não podem?! Afinal onde está o direito ao contraditório? Porque é que quem não ofende não pode expor a sua opinião como anónimo? Porquê essa protecção ao sr. Cardoso que já vimos bem que se sabe defender, e atacar, muito bem? Porquê essa tua cumplicidade, contra quem nem tu nem ele podem julgar o trabalho? Eu percebo que em alguns casos, e para algumas pessoas, outros interesses se sobrepõem às supostas amizades, mas, por favor Rosinha, de ti não esperava, mesmo tendo em atenção a tua conhecida orientação política!

Varandas disse...

O Alandroalandia protege todos os comentadores identificados, é essa a politica do blogue, não há exclusividade para ninguém. Qualquer leitor, comentador, editor... que se identifique de forma verídica, o contraditório só será possível de forma também identificada.

Rosinha.

Anônimo disse...

Anônimo disse...


Quero ver como os técnicos profissionais agora descalçam esta bota... Isto é de uma incompetência total!!! E nesta terra tudo acobardado e caladinho... Lindo!!!!

28/02/2013 20:51:00

O grande problema caro comentador é que os técnicos até podem ser profissionais, mas competência e experiencia para um trabalho deste calibre não tem, isso já se sabia antemão porque o historial ou currículo desta gente não é de todo desconhecido e de facto ouve por aqui quem alertasse, mas se duvidas havia, está á vista de todos principalmente dos minimamente entendidos a linda obra que ali está.
Quando um Município tem a dirigi-lo autarcas que escolhem para qualquer trabalho, os amigos e conhecidos dos amigos, sem qualquer tipo de cuidado na escolha, nem de preocupações com valores e condições apresentadas, não se protegem os interesses da Autarquia nem dos Munícipes.
Foi assim com esta requalificação, é assim com obras empreitadas, é assim com os espectáculos e aluguer de som e luz, que nem consultam empresas do ramo sediadas no Concelho, e assim andamos a mando e às ordens de uma só pessoa que tudo pode e faz como quer e lhe apetece.
Não foi em gente com este comportamento que eu e muitos votamos, acreditamos numa mudança que pelos vistos só existiu em campanha eleitoral, mas tudo se paga, o povo é sereno.

Um bom domingo para todos.

Anônimo disse...

Não estou a perceber de que técnicos se está falar, dos que projectaram a obra ou dos andaram lá a escavar? É que uns não são responsáveis pelo trabalho dos outros!

Anônimo disse...

Mas de que crime inqualificável o comentador das 15:41 de dia 1 se refere? Já ouviu mais opiniões, as do João Justa esclarecem de vez o assunto?! Deve estar a brincar!

Anônimo disse...




As do João Cardoso? E as dos outros historiadores, se faz favor!!! Um deles afirma mesmo que se deveriam fazer cuidadosas escavações!! Os senhores arrasaram tudo, esconderam tudo e ainda têm o descaramento de atacar o rapaz porque tem a coragem de o dizer?? Não deitem areia para os olhos das pessoas!! Entendam-se, sejam humildes, e vejam o que ainda podem fazer pela nossa História!!

Anônimo disse...

concordo que se devia investigar melhor as sepulturas que foram descobertas no quintal do relógio, mas não me parece mal que se use a pedra mármore para consertar o que estava destruído. Depois de ler o que um comentário disse noutro blog contei os blocos de mármore que estão metidos no castelo e desisti quando cheguei a trezentos. Aonde eu moro perto do antigo hospital as escadinhas tem todas a proteção dos degraus em pedra mármore. Não vejo aonde está a escandaleira. isso das sepulturas sim estou de acordo em que deviam ser melhor inspecionadas.

Anônimo disse...

As sepulturas foram bem inspeccionados, esteja descansado. Foram fotografadas, filmadas, escavadas e desenhadas por pessoa creditada e competente, sabe-se o sítio onde estão e não há o perigo de serem adulteradas. Algumas ossadas foram retiradas para serem estudadas por quem de direito. E com a vantagem de tudo isso ainda poder vir a ser visto por todos. Nenhum profissional que se preze em arqueologia esconde o que quer que seja das populações. Aliás, alguma população mais idosa do Alandroal foi muito cooperante com os profissionais que ali trabalharam, falando de outros tempos em que se lembram de intervenções no castelo.
Não se deve falar do que não se sabe. Quando não sabemos algo o melhor é perguntar, tentar perceber, esclarecer as dúvidas. Não devemos duvidar do trabalho dos outros só por "dá cá aquela palha". "Não faças aos outros aquilo que não gostavas que te fizessem a ti".

Paz de consciência!