Idosos de Alandroal com problemas oftalmológicos resolvidos
Catorze idosos do concelho do Alandroal, entre os 75 e 91 anos, com doenças oftalmológicas, sobretudo cataratas, e alguns deles há anos em lista de espera em Portugal, foram operados em Cuba na semana passada.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do município de Alandroal, João Nabais, explicou hoje tratar-se do "primeiro grupo" de doentes oftalmológicos do concelho a "rumar" a Cuba para ser operado, no âmbito de uma parceria estabelecida com os serviços de saúde cubanos.
"Fizemos uma primeira triagem, apenas a utentes do cartão social do idoso, e apareceram-nos cerca de uma centena com problemas oftalmológicos, sobretudo devido às cataratas, tendo sido seleccionado este grupo inicial de 14 pacientes, com maiores dificuldades", disse.
O grupo, integrando vários idosos que "há anos estavam em lista de espera" para uma operação em Portugal, partiu para Cuba no passado dia 11, tendo o município estabelecido, formalmente, o protocolo com os serviços de saúde cubanos quatro dias depois.
"Iniciámos este processo ainda no ano passado e, durante estes meses, foi amadurecendo. Agora, acompanhei o primeiro grupo a Cuba e, aí, assinámos o protocolo", disse.
Do grupo de 14 doentes operados, cinco já tiveram alta e regressaram a Portugal esta segunda-feira, enquanto que os restantes deverão fazê-lo até final da semana, realçando João Nabais que os resultados são "excelentes".
"Queria ver como é que corria esta primeira experiência e os resultados são excelentes. Alguns destes idosos há 20 anos que não viam como deve de ser e, por isso, imagine a alegria quando, de um momento para o outro, lhes foi restituída a visão", salientou.
Além disso, as condições de acolhimento dos pacientes em Cuba foram "magníficas", pois, foram recebidos "num hospital-hotel, com todos os cuidados, quer em termos de infra-estruturas, quer ao nível humano".
"São pessoas idosas e carentes, a precisar muito de carinho, e percebi que, durante estes dias, carinho foi o que não lhes faltou, tanto de médicos, como do pessoal de enfermagem. Alguns estão tão maravilhados que dizem que não querem voltar", disse, rematando em jeito de brincadeira.
O município de Alandroal prevê que, no total, cerca de duas centenas de habitantes do concelho com afecções oftalmológicas venham a ser abrangidos pelo acordo com os serviços médicos cubanos, não apenas idosos, mas também a população em geral.
"Dentro de cinco ou seis meses, deve partir o segundo grupo de idosos, que já está perfeitamente identificado, e, logo que tenhamos ultrapassado estes casos mais complicados, pretendemos abrir esta possibilidade, numa terceira fase, à população em geral, sem limite de idades", acrescentou.
Contas feitas, para João Nabais, o investimento para resolver os problemas oftalmológicos destes doentes é "perfeitamente suportável" pelo município, rondando os "1.500 euros por paciente".
"Felizmente, não temos assim tantos casos destes nos cerca de sete mil habitantes do concelho, pelo que o benefício do município, em resolver o problema dos seus doentes na área das cataratas, é superior ao custo", disse.
O presidente garantiu ainda que, fruto desta parceria com Cuba, o objectivo da autarquia "não é colocar em causa o profissionalismo" dos médicos portugueses, mas sim "resolver os problemas dos munícipes".
"Estou de consciência tranquila e, se alguma coisa não está bem na área da Saúde em Portugal, e não está porque senão não me deparava com este tipo de situações, quem de direito é que a deve tentar resolver", argumentou.
O município está já a trabalhar no alargamento do acordo com Cuba para outras áreas, como a reabilitação e a Síndrome do X Frágil (SXF), doença genética hereditária que é a causa mais frequente de atraso mental hereditário.
O Alandroal tem desenvolvido, através do centro de Saúde local, em colaboração com o Hospital de Santa Maria e a Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, um trabalho pioneiro em Portugal sobre a SXF.
A síndrome já foi identificada em 20 habitantes locais, de 15 famílias, o que dá uma prevalência da doença "cinco vezes superior à média nacional".
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